[Resenha] Santo Guerreiro: Roma Invicta - Eduardo Spohr

Nossa aventura com esse romance histórico começa no fim do século III, quando já havia fortes indícios da queda do Império Romano por conta de conflitos religiosos, invasões bárbaras germânicas e diversas brigas políticas dentro do próprio império. Logo no início, somos apresentados a Laios Graco, um alto oficial da cavalaria romana, que foi responsável pela captura da rainha Zenóbia, descendente de Cleópatra, na cidade de Palmira durante a batalha de Emesa, quando ela havia desafiado o império após a morte de seu esposo, o príncipe árabe, Odenato.

Após a queda de Palmira, Laios conhece Polychronia, uma serva de Zenóbia, por quem acaba se apaixonando e se casando. Depois de três anos da queda de Palmira, os dois acabam tendo um filho chamado Georgios que, futuramente, seria chamado por muitos de São Jorge. Neste primeiro volume da trilogia, nós acompanhamos acontecimentos importantes da vida de Laios e o início da árdua jornada de Georgios, desde o seu nascimento até o seu treinamento para se tornar um soldado do Império Romano.

Embora não lhe faltasse nada, urgia em seu peito o desejo de partir, de ganhar o mundo, de cavalgar, de lutar, viajar de navio, conhecer o mar, as províncias do Oeste, a Itália e a Grécia. Essa vontade crescia a cada semana, e às vezes, no meio da noite, ele acordava agitado, como se a vida estivesse passando diante de seus olhos e ele continuasse parado.

Sendo um dos santos mais famosos da história, São Jorge é constantemente admirado nas tradições religiosas católicas, anglicanas, ortodoxas e até mesmo em algumas religiões de matriz africana. Diversas vezes ele é retratado como um soldado medieval usando uma armadura completa e brilhante, mas neste livro vemos que na verdade, ele foi um soldado romano e que relatos históricos apontam que ele foi morto no século IV por rejeitar as tradições dos deuses pagãos de Roma. Vale ressaltar que ele não foi oficialmente criado por uma família cristã, pois como já foi mencionado, Laios era um cavaleiro romano, porém sua mãe, Polychronia começou a praticar o cristianismo, mas não chegou a ser batizada. Por conta disso, Georgios só começou a ter mais contato com as tradições cristãs durante a sua adolescência, mas ainda se manteve fiel às tradições e aos deuses romanos por muito tempo.

Acredito que esta seja a obra mais completa e próxima da realidade sobre São Jorge, pois apesar de ter um pequeno toque de misticismo em algumas cenas, dá para perceber logo no início do livro que o autor não poupou detalhes sobre a Roma Antiga e nem modificou importantes acontecimentos históricos. Muito pelo contrário! Eduardo Spohr conta que realizou uma grande pesquisa e viajou para as cidades em que Georgios supostamente esteve, segundo documentos históricos. Por conta disso, é muito interessante ver com detalhes como era a rotina e a interação social entre equestres, plebeus e escravos na época da Roma Antiga. Além disso, pude perceber o quão importante foram as religiões nesse contexto, principalmente as pagãs romanas e o cristianismo, que estava começando a aumentar sua quantidade de praticantes pelo mundo antes do Primeiro Concílio de Niceia realizado e organizado pelo imperador Constantino.

Sentiu uma descarga de emoções conflitantes. Era algo que o empolgava, mais que tudo na vida: o risco, o desafio, a sensação de perigo, de estar à beira da morte.

Eu não sou tão familiarizado com o mundo de romances históricos, mas acredito que esse livro foi uma excelente porta de entrada, visto que, o autor conseguiu me fazer sentir como era viver naquela época, pois quando os personagens passavam por alguma dificuldade, eu consegui sentir o perigo que eles estavam correndo. Vale a pena destacar as cenas de batalha que são excelentes, até porque é praticamente impossível falar de Roma Antiga sem os seus grandes conflitos. Além dos que já foram citados, há vários outros personagens históricos superimportantes que aparecem nesse livro e eu confesso que vibrei com a aparição de alguns deles (não vou dizer quem para não estragar a surpresa) e principalmente pela forma que eles foram inseridos na história.

O livro é narrado em terceira pessoa e nós acompanhamos a perspectiva de vários personagens como Laios, Polychronia e o próprio Georgios. Houve alguns momentos em que eu senti que a leitura ficou um pouco mais lenta, por conta da quantidade de detalhes. Nesse caso, porém, eu acho que esse fator acaba sendo positivo no final das contas, pois quando falamos de um romance histórico, esses detalhes fazem parte da narrativa do livro, então não foi um conteúdo "gratuito" e sem importância. Pelo contrário! Me ajudou a criar toda a ambientação dos cenários do livro. Portanto, eu recomendo muito esse livro para pessoas que se interessam por romances históricos ou que, assim como eu, querem iniciar suas aventuras nesse gênero literário. Lembrando que Santo Guerreiro contará com mais duas continuações chamadas Ventos do Norte e O Império do Leste que acompanharão a aventura de Georgios como paladino até o seu martírio na Nicomédia.

Todos nós temos uma vocação. O melhor que podemos fazer é segui-la. Um homem que não segue a sua vocação se transforma em uma criatura medíocre.


SANTO GUERREIRO: ROMA INVICTA
Autor: Eduardo Spohr
Editora: Verus
Páginas: 616
Peso: 700 gramas
Acabamento: Brochura
ISBN: 978-85-01-30403-2
EAN: 9788501304032

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