[Resenha] - Me leve com você - David Levithan e Jennifer Niven

Eu terminei esse livro faz 3 minutos, exatamente. Eu não podia gravar a resenha agora e por isso estou aqui escrevendo tudo o que eu senti porque achei que era importante, então vamos lá.

Me leve com você conta a história do Ezra e da Bea, dois irmão de 15 e 18 anos que vivem com a mãe Anne e o padrasto Darren. A vida deles é um inferno. Eles foram abandonados pelo pai quando eram muito pequenos e logo a mãe se casou de novo, com um homem que claramente não queria os filhos dela. E a mãe que já não era grande coisa permitiu que eles crescessem num lar sem amor, sem respeito e sem bondade. 

O livro é inteiro escrito por cartas e a primeira é exatamente do Ezra escrevendo um e-mail para Bea, que fugiu de casa e deixou apenas um endereço de e-mail de um servidor desconhecido. E a partir dai tudo começa a ser desvendado para nós, e para eles. 

Quando a gente lê a sinopse e vê a capa a gente pensa que é um livro bobo e adolescente sobre uma menina boba que foge de casa por rebeldia e um irmão que está bravinho porque foi deixado para trás. Mas é muito, eu disse MUITO mais que isso. Ao longo da narrativa a gente passa a conhecer a intimidade da vida dos dois, como eles faziam tudo para esconder os acontecimentos dentro de casa, como eles não tinham conexões muito verdadeiras na rua e como eles eram tudo um do outro.

Logo Ezra também consegue sair de casa, ele conta com ajuda do ex namorado de Bea, que também foi abandonado e com o próprio namorado Terrence e suas famílias (muito melhores que a dele) para conseguir se manter fora de casa. 


"O que percebi quando finalmente levantei a cabeça: durante todos esses anos eu venho carregando uma pontinha de esperança, enterrada em algum lugar lá no fundo, de que talvez não estivéssemos levando a vida que deveríamos, de que talvez outra vida, uma vida melhor, esperasse por nós em algum lugar. Quer dizer, quem não tem esse desejo pelo menos uma vez na vida? Em todos os piores, podres momentos com o Darren e a mãe, aquela pontinha de esperança era meu refúgio onde eu me encolhia e dizia a mim mesma: “Está tudo bem. Aqui não é o seu lugar. Tem algo melhor para você em algum lugar. Aqui não é o seu lugar”.

O que mais impacta, na verdade, é a indiferença da mãe deles. A todo momento ela age como se fosse a vítima de filhos rebeldes e ingratos (ela usa essa palavra muitas vezes), e a cada carta que os dois trocam você percebe o quanto eles estão magoados e o quanto eles não se sentem amados por essa mãe. Você mesmo, leitor, começa a perceber que eles não são mesmo amados. O padrasto é violento e agressivo e a mãe indiferente de tal forma que causa repulsa.


Ao longo do livro a gente vai descobrindo os motivos que fizeram a Bea fugiu e eles são muito profundos e fazem total sentido. E isso faz os dois se quebrarem e se reconstruírem ao longo das cartas que trocam. As tragedias continuam acontecendo na vida deles e demora um tempo até a calmaria chegar.

"O que percebi quando finalmente levantei a cabeça: durante todos esses anos eu venho carregando uma pontinha de esperança, enterrada em algum lugar lá no fundo, de que talvez não estivéssemos levando a vida que deveríamos, de que talvez outra vida, uma vida melhor, esperasse por nós em algum lugar. Quer dizer, quem não tem esse desejo pelo menos uma vez na vida? Em todos os piores, podres momentos com o Darren e a mãe, aquela pontinha de esperança era meu refúgio onde eu me encolhia e dizia a mim mesma: “Está tudo bem. Aqui não é o seu lugar. Tem algo melhor para você em algum lugar. Aqui não é o seu lugar”.

É um livro extremamente profundo (desculpe David Levithan e Jennifer Niven por um dia achar o contrário), com temáticas relevantes e que existem sim na vida real. No final das contas você percebe que os dois só tem a eles mesmos como família e que isso terá que bastar pra que eles consigam construir um futuro fora dos moldes onde cresceram, será que eles conseguiriam quebrar esse ciclo?  

É uma história emocionante demais, sobre irmãos que se conectam entre si e que passaram por muitas coisas que não deveriam passar nessa idade, que ninguém deveria. Mas mostra também o poder o amor  da reconstrução, quando você encontra pessoas que estão dispostas a ser pra você aquilo que nem sua própria mãe quis ser. 

"Em algum momento das nossas vidas, a mãe nos quis."


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