Maratona Trilogia Shatter Me


Toda passagem de ano é a mesma coisa: começamos, cheios de entusiasmo, a criar planos para os próximos 365 dias que teremos para fazer o que quisermos. E que leitor não coloca em suas metas pelo menos uma opção relacionada aos livros, não é mesmo? Seja ler tudo o que tem antes de comprar novos exemplares, seja de gastar menos com livros, ou de ler novamente muitos dos livros já existentes em nossas estantes, sempre temos algo novo para querer. Obviamente, não foi diferente comigo. E uma das minhas vontades era fazer pelo menos uma maratona literária em 2018, visto que há muito eu não fazia nada assim. E, unindo o útil ao agradável, comecei o ano maratonando esta trilogia da autora Tahereh Mafi, não muito conhecida assim, mas que tem muito a nos oferecer. 




Aviso: O post abaixo contém spoilers de todos os livros da saga. Se você não se importa, por favor siga em frente. Mas, para os que não gostam deste tipo de informação, ainda indico a leitura desta série profundamente apaixonante.

Shatter Me pode ser aos olhos de muitos uma simples trilogia escrita para um público mais jovem, mas para mim foi mais do que palavras unidas e organizadas em folhas de papel. Porque, mais do que uma trilogia adolescente distópica, Shatter Me é uma história comovente sobre amor e amizade, conhecimento e evolução pessoal de uma pessoa rejeitada pelo mundo e que só tem tentado sobreviver dentre todas as adversidades. 

I only know now that the scientists are wrong. The world is flat. I know because I was tossed right off the edge and I've been trying to hold on for 17 years. I've been trying to climb back up for 17 years, but it's nearly impossible to beat gravity when no one is willing to give you a hand. *

* "Agora eu sei que os cientistas estão errados. O mundo é plano. Eu sei porque eu fui arremessada na direção da borda e eu tenho tentado me segurar por dezessete anos. Eu venho tentando subir de volta por dezessete anos, mas é quase impossível vencer a gravidade quando ninguém está disposto a lhe estender uma mão." 

Juliette Ferrars é nossa protagonista nesta história. Ela tem um poder que a torna, para o mundo, uma pessoa perigosa. E por causa de quem é, a jovem de dezessete anos está presa há 264 dias, em completo isolamento, na companhia apenas de um lápis e um pequeno caderno para escrever tudo o que se acumula em sua cabeça. Por causa do acontecimento que a levou até ali, Juliette mostra-se desde as primeiras páginas como uma pessoa insegura e cheia de medos. Ela se vê carregando eternamente nas costas o peso do que aconteceu, mesmo ciente de que tudo não passou de um acidente. E por suas ideias, tenta a todo custo convencer o mundo de que ela não é o monstro que todos insistem em ver nela, e que tudo o que quer é ter uma vida normal.

All I ever wanted was to reach out and touch another human being not just with my hands but with my heart. * 


* "Tudo o que eu sempre quis era alcançar e tocar outro ser humano não apenas com as minhas mãos, mas com o meu coração." 



A vida de Juliette começa a mudar quando ela recebe Adam, um novo colega de cela e alguns dias depois, ambos são levados pelo exército para o setor 45, cujo comandante, Warner, possui planos para Juliette - planos que envolvem seus poderes. E a história da nossa protagonista passa a se desenvolver a partir daí, com Juliette passando a viver em um meio totalmente diferente, mas ainda infeliz pelos objetivos que a trouxeram até ali. A presença de Adam e Warner é muito importante para o desenvolvimento da história, pois ambos se mostram a todo instante como peças necessárias para o crescimento de Juliette durante toda a trilogia. 

Enquanto Adam torna-se cada dia mais próximo de Juliette a ponto de ambos começarem a ter um envolvimento romântico, o ódio dela por Warner é cada vez maior, a ponto de Adam e ela começarem a arquitetar um plano de fuga. Foi a partir desta criação de conceitos da nossa protagonista que eu comecei a formar a minha própria imagem de Adam e Warner também. Porque a autora não usou os dois rapazes apenas como elementos de um triângulo amoroso fraco cujo objetivo maior era dividir os leitores em "Teams". Aliás, o que ela fez foi algo que eu nunca havia visto antes em nenhuma saga com este tipo de romance. 

Enquanto Adam é protetor e quer a todo custo estar próximo de Juliette para impedir que alguém lhe faça qualquer tipo de mal, Warner é praticamente o oposto, intenso, misterioso e vive colocando Juliette em situações nas quais ela é obrigada a fazer uso dos poderes que tanto despreza em si mesma. Enquanto Adam só demonstra carinho e preocupação para com nossa protagonista, Warner lança verdades e mais verdades em forma de afirmações e perguntas sobre ela, por vezes de forma um tanto quanto cruel, mas que nos fazem refletir o quanto ele esconde dentro de si mesmo e até que ponto conhece sobre a vida de Juliette.




Por causa deste pequeno detalhe foi que resolvi seguir uma sequência diferente, indo para a leitura do livro de contos antes de começar Unravel Me, justamente porque o primeiro deles se passa entre os dois primeiros livros da trilogia. Destroy Me, conto 1.5, é narrado sob o ponto de vista de Warner e eu gostei demais de poder entrar na mente dele e entender a forma como ele vê o mundo ao seu redor, como se sente em relação à sua vida, aos abusos físicos e psicológicos que sofre nas mãos de seu pai e, não podia faltar, o que Warner realmente sente por Juliette e o que realmente quer com ela. 

In one week my entire life has changed. My priorities, shifted. My concentration, destroyed. Everything I care about right now revolves around one person, and for the first time in my life, it's not myself. * 

* "Em uma semana minha vida inteira mudou. Minhas prioridades, mudadas. Minha concentração, destruída. Tudo o que me interessa agora gira em torno de uma pessoa, e pela primeira vez na minha vida, não sou eu." 

But now she's out of reach. She's gone somewhere with strangers who do not know her and would not care for her as I would. She's been dropped into another foreign enviroment with no time to transition, and I'm worried about her. *

* "Mas agora ela está fora de alcance. Ela foi para algum lugar com estranhos que não a conhecem e podem não se importar com ela como eu me importaria. Ela foi jogada em outro ambiente desconhecido sem tempo de transição, e eu estou preocupado com ela."




Mas é a partir do segundo livro que começa a ser mostrado o lado profundo das coisas e a história começa a se desenvolver de forma mais interessante, nos mostrando toda a questão que eu mencionei antes sobre crescimento pessoal e autoconhecimento. Juliette, na companhia de Adam, Kenji e do pequeno James, conseguiu fugir e está escondida agora na base secreta dos rebeldes, conhecida como Ômega Point. Lá, Juliette descobre que não é a única pessoa do mundo com poderes únicos e especiais, o que lhe dá um pouco mais de confiança em si mesma, pois ali ela poderá treinar e aprender a controlar o dom que possui.

A partir daí, novas amizades começam e se desenvolver e Juliette começa, mais importante do que tudo, a se aceitar como é. A aceitar os poderes que fluem dentro dela e a descobrir que ela pode, sim, criar vínculos e ser amada de verdade pelas pessoas. E enquanto este lado se ajeita, o outro, em contrapartida, começa a desandar - e eu que já não gostava muito do Adam desde que descobri que ele era um soldado e que mentiu para Juliette sobre isso, perdi completamente qualquer centelha de afinidade que poderia ter por este personagem. Tahereh desenvolveu os relacionamentos de forma muito boa e verdadeira, quando achamos que alguém com quem nos importamos começa a nos revelar um lado que nunca pensamos existir. 

Juliette descobriu, acima de tudo, não estar sozinha em sua jornada. Cercada de pessoas amistosas que querem o seu bem, ela se vê capaz de crescer pessoalmente sem a necessidade de ser incessantemente protegida o tempo todo - e essa pequena característica foi o que representou o maior divisor de águas de toda a história. Quando Juliette começa a ver em Adam comportamentos que a incomodam e a ver em Warner aquilo que ela mais precisa no momento para conseguir se autodescobrir e crescer como pessoa.

I like the way I feel about myself when I 'm with him. [...] Warner thinks I'm strong and smart and capable and he actually values my opinion. He makes me feel like his equal. [...] And if I do something incredible, he's not even surprised. He expects it. He doesn't treat me like I'm some fragile little girl who needs to be protected all the time. *  
* "Eu gosto do jeito como me sinto quando estou com ele. [...] Warner pensa que eu sou forte e esperta e capaz e ele, na verdade, valoriza minha opinião. Ele me faz sentir como sua igual. [...] E se eu faço algo incrível, ele não fica surpreso. Ele espera por isso. Ele não me trata como uma garotinha frágil que precisa ser protegida o tempo todo."


I know that he is a tortured soul who, like me, never grew up with the warmth of friendship or love or peaceful coexistence. *

* "Eu sei que ele é uma alma torturada que, como eu, nunca cresceu com o calor de uma amizade ou amor ou uma convivência pacífica."


I think I understand you sometimes. [...] I really do. But just when I think I finally get you, you surprise me. And I never really know who you are or who you're going to be. [...] But I know I don't hate you anymore. [...] I've tried so hard. [...] But I know too much about you now. I've seen too much. You're too human. *

* "Eu acho que eu entendo você algumas vezes. [...] Eu realmente acho. Mas quando eu penso que eu finalmente entendo você, você me surpreende. E eu nunca sei realmente quem você é ou quem você vai ser. [...] Mas eu sei que eu não te odeio mais. Eu tentei muito. [...] Mas eu sei muito sobre você agora. Eu vi muito. Você é tão humano." 

Este livro, então, foi um aprendizado em muitos sentidos para mim, além de conter uma história maravilhosa que se tornou uma das minhas séries mais queridas! Principalmente por nos ensinar que é importante que tenhamos companhia em nossa jornada evolutiva, mas que o essencial é que aprendamos a nos descobrir e crescermos individualmente para só assim aprendermos a enxergar e aceitar o que realmente é bom para nós. Tahereh Mafi tornou-se uma inspiração de autora para mim, ao escrever com tanta delicadeza e sensibilidade uma história fantástica que vai muito além do mundo distópico juvenil. Agora em março chega livro novo deste mundo de Shatter Me e obviamente já estou me programando para voltar!

"Ignite, my love, ignite."


* "Incendeie, meu amor, incendeie." 

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