[Resenha] Sandman: Prelúdios e Noturnos - Neil Gaiman

Em 1916, um grupo de ocultismo liderado por Roderick Burgess, realizou um ritual para tentar aprisionar a entidade conhecida como Morte, porém ao terminar, seus seguidores e ele acabaram atraindo Sonho, o irmão mais novo da Morte. Sonho (também conhecido como Morpheus ou Sandman) governa o Sonhar, o reino dos sonhos. Ele é, assim como sua irmã, um dos 7 perpétuos, que são a personificação de conceitos que regem o universo (eu sei, falando assim parece meio confuso), como Destino, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio (a ideia original era que todos começassem com a letra "D", pois em inglês, Sonho se diz "Dream" e Morte se diz "Death"). Morpheus foi aprisionado por mais de 70 anos por Burgess e seu filho, Alex, até que ele finalmente acaba conseguindo escapar da redoma de vidro que o prendia. Ao sair, ele descobre que seus 3 artefatos místicos haviam sido roubados, sendo eles: um elmo feito com fragmentos de um antigo deus, um rubi que canaliza todos os seus poderes e uma algibeira com areia infinita que lhe permite adormecer as pessoas fazendo com que sonhem, entre outras habilidades. Portanto, Sandman decide embarcar em uma jornada para recuperar suas forças e suas ferramentas, nem que tenha que ir até o inferno e intimidar os seus respectivos governantes para isso.
 

A versão original de Sandman havia sido criada na Era de Ouro dos Quadrinhos, mas ele era um personagem completamente diferente. Seu nome verdadeiro era Wesley Dodds, e ele era um vigilante sem poderes que usava um sobretudo, uma máscara de gás e uma arma com tranquilizantes. Em 1987, o aclamado autor Neil Gaiman recebeu a oportunidade de iniciar uma série mensal de quadrinhos da DC. Uma de suas sugestões foi de resgatar o personagem Sandman que estava guardado na gaveta há um bom tempo e havia sido praticamente esquecido. Sua editora, Karen Berger concordou, mas disse que ele devia criar um personagem totalmente novo com algo que ninguém tinha visto até então, mas ele deveria manter o título original da HQ. Assim, Gaiman repaginou completamente a ideia de Sandman sem alterar a trajetória do personagem original que continuou existindo no universo DC.

Algumas coisas são grandes demais para serem vistas. Algumas emoções enormes demais para serem sentidas.

Gaiman se inspirou em diversas figuras mitológicas para criá-lo, uma delas, foi um personagem de contos infantis que, no Brasil, é conhecido como João Pestana, uma entidade que sopra areia nos olhos das crianças para que elas possam dormir e sonhar. Assim, ele criou Morpheus, uma entidade que não é necessariamente um herói ou um vilão, pois ele está muito acima do bem e do mal, estando além do entendimento dos mortais. Um elemento interessante do Sonho é que sua aparência depende da perspectiva de quem o está observando,  por isso, ele possui a habilidade de se transformar no que ele quiser, podendo assumir uma forma mais "humana" ou a de um gato preto por exemplo. Por isso, Gaiman lhe atribuiu uma característica: todos os seus balões possuem a cor preta para identificar suas falas e pensamentos independentemente de sua forma física.

Apesar de Sandman ser um personagem da editora DC Comics, situando-se no mesmo universo dos heróis mais conhecidos como Batman, Superman, Mulher Maravilha e companhia, a HQ foi publicada pelo selo Vertigo, o selo de HQs focadas no público adulto. Algumas outras histórias que fazem parte deste selo são Watchmen, Hellblazer, Monstro do Pântano, Vampiro Americano, entre outros excelentes títulos. A Vertigo permitiu que Gaiman pudesse proporcionar um tom de profundidade muito maior para o personagem, com um estilo mais sombrio e melancólico. Sua aparência já foi imaginada com este intuito, um homem muito magro, completamente pálido, com cabelo bagunçado, vestindo um sobretudo preto com bordas amarelas e sempre com uma expressão introspectiva. Tanto que, em diversos momentos da HQ, Sonho se encontra fazendo diversas reflexões sobre a humanidade, a vida e o objetivo de sua existência. Em outras palavras, crises existenciais são o que não faltam neste quadrinho.

Eu me indago a respeito da humanidade. A atitude das pessoas para com a dádiva de minha irmã [a Morte] é tão estranha. Por que elas temem as Terras sem Sol? É tão natural morrer quanto nascer. Mas todos têm medo dela. Angustiam-se. Inutilmente, tentam aplacá-la.

Neil Gaiman conseguiu realizar um feito incrível com este volume, ele introduziu um mundo que mistura lendas, ocultismo, fantasia, histórias de terror com diálogos épicos e um simbolismo de diversas crenças, envolvendo até mesmo elementos religiosos que se complementaram e construíram algo completamente novo e ousado. Atualmente, Sandman possui 10 HQs encadernadas com 10 arcos de histórias completamente fechadas, ou seja, todas possuem começo, meio e fim. Isso facilita muito a vida de leitores que, assim como eu, nunca haviam lido nada sobre esse personagem. Muitos acham que histórias em quadrinhos (principalmente as que se passam em um mundo de super heróis) são infantis e possuem um enredo fraco ou raso, mas felizmente, Sandman serve como um ótimo argumento para mostrar que este pensamento é um grave equívoco. Eu diria até que esta HQ não foi feita para fãs de quadrinhos, mas para um novo e mesclado público devido a sua grande diversidade de elementos que Gaiman nos apresenta. Portanto, se você nunca leu uma HQ, mas tem interesse em começar a se aventurar pelo mundo dos quadrinhos, Sandman é mais do que um excelente ponto de partida, visto que, se tornou uma série multipremiada que trouxe uma legião de novos leitores e é considerada, por muitos, uma obra prima.

Sandman também ganhará uma série Live-Action produzida pela Netflix. Seu roteirista será Allan Heinberg e Neil Gaiman será o produtor executivo junto com David Goyer. A série ainda não tem um número total de episódios e nem previsão para ser lançada, mas a notícia deixou muitos fãs animados com a adaptação. Portanto, é uma ótima oportunidade para conhecer a obra original e já se familiarizar com os personagens. Confira o trailer da série abaixo:



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