A Fúria dos Reis é o segundo volume da saga de fantasia medieval das Crônicas de Gelo e Fogo, escrito por George R. R. Martin, que serviu de base para a série Game Of Thrones da HBO. Aqui a história continua sendo contada em terceira pessoa através de capítulos mostrando os pontos de vista de cada personagem. A principal diferença é que agora não há um consenso sobre a quem pertence o Reinado de Westeros. Depois da morte do Rei Robert Baratheon, seu irmão caçula, Renly se autoproclamou rei, desafiando a ascendência de seu outro irmão, Stannis Baratheon. Robb Stark também não fica de fora dessa briga, pois após estarem fartos de sofrerem tantas perdas nessa guerra, seus seguidores nomeiam Robb como Rei do Norte, tornando Winterfell um reinado a parte de Westeros.
Enquanto isso, Porto Real acaba oficializando seu recém-coroado Rei, Joffrey Baratheon, um dos personagens mais insuportáveis de toda literatura fantástica. Eu particularmente já não gostava dele no primeiro volume, mas agora que o poder chegou finalmente em suas mãos, ele conseguiu se superar ficando ainda mais babaca e irritante, além de mostrar sua verdadeira face, sendo extremamente cruel, para a irmã de Robb, Sansa Stark, que acabou se tornando noiva de Joffrey contra sua vontade. Vale lembrar que Eddard Stark foi assassinado em praça pública no livro anterior, pois foi condenado como um traidor da coroa real (pobre Boromir! Não teve um dia de paz). No início, eu até me perguntei por que mantiveram a Sansa como noiva de Joffrey, mas acho que já deu para perceber que estrategicamente Sansa Stark é, na verdade, uma refém, em contrapartida que Jaime Lannister está sob os domínios do exército de Robb. Mas apesar de tanta crueldade ser descrita com a Sansa, eu confesso que os capítulos dela se tornaram infinitamente mais interessantes do que no livro anterior, pois vemos que aos poucos, Sansa vai aprendendo a lidar com o ninho de cobras em que ela se encontra, fazendo com que ela perca boa parte (mas não completamente) da ingenuidade que ela possuía anteriormente.
Quando você arranca a língua de um homem, não está provando que ele é mentiroso, mas apenas dizendo ao mundo que teme o que ele possa dizer.
Mais ao Norte, vemos que Jon Snow parte para além da muralha em busca de seu tio Benjamin junto com a Patrulha da Noite. Agora acompanhamos Jon alcançando uma posição de maior confiança e responsabilidade ao lado de seu líder e mentor, Jeor Mormont, também conhecido como Velho Urso. Porém, sem sucesso na busca, os homens de preto enfrentam vários problemas ao se depararem com grupos de Selvagens, homens e mulheres que vivem livremente além da Muralha sem responder às leis ou ao Trono de Ferro. Neste grupo, a principal preocupação (além deles mesmos) são os Outros (ou Caminhantes Brancos, como são chamados na série de TV). Em meio a tudo isso, Jon Snow acaba se deparando com uma mulher selvagem, que ele acaba hesitando em matar, chamada Ygritte. Entre idas e vindas, acaba surgindo uma espécie de romance entre os dois personagens. Porém, nesse caso a relação entre eles é o plano de fundo para Jon se questionar sobre suas escolhas, seus votos e se realmente tomou a decisão correta de abandonar sua família para vestir o manto negro. Apesar de abordar questões interessantes, neste livro os capítulos de Jon se tornaram mais chatinhos pra mim, pois o ritmo desacelerou bastante e no final senti que sua parte da história não caminhou tanto quanto eu gostaria, visto que eu acabei criando um certo hype no fim do primeiro volume, mas felizmente não é nada tão absurdo que acabe atrapalhando a leitura.
Agora vamos para os meus capítulos favoritos desse livro, que não à toa, acompanham a perspectiva de um dos melhores personagens da saga: Tyrion Lannister. Nomeado por seu pai como Mão do Rei de Porto Real, agora cabe a Tyrion resolver as bagunças deixadas pelo antigo Rei e pelo seu sobrinho irresponsável e inconsequente, Joffrey. Nesse caso, é bom ressaltar que se tem uma coisa que o George sabe escrever muito bem, são diálogos! Ele consegue tornar os personagens muito verdadeiros na forma como eles se expressam, principalmente quando são diálogos mais calorosos envolvendo alguma discussão (que nesse livro, é o caso de 90% das conversas). Dito isto, as cenas do Tyrion com a sua irmã, Cersei, são simplesmente espetaculares. Eu já imaginava que seria assim após ver as incríveis atuações de Peter Dinklage e Lena Headey na série da HBO, mas no livro a interação entre os dois fica ainda melhor, pois você percebe que cada frase dita entre ambos (salvo raras exceções) é um movimento num grande jogo de xadrez.
De forma geral, neste livro nós somos mais introduzidos à magia desse universo, visto que no primeiro volume este elemento era bem discreto. Isso acontece em boa parte graças ao núcleo de Stannis Baratheon visto pela perspectiva de seu cavalheiro e ex-contrabandista, Davos Seaworth. Ambos presenciam acontecimentos inimagináveis graças aos feitiços da personagem Melissandre, a sacerdotisa vermelha da religião de R'hllor, o Senhor da Luz e conselheira de Stannis Baratheon durante sua guerra para assumir o Trono de Ferro. Até o momento, não se sabe ao certo as verdadeira intenções de Melissandre (sem spoilers, por favor), mas com certeza não são das melhores, visto que ela não me parece a pessoa mais confiável do mundo. Mesmo assim, achei ela uma personagem muito interessante e acredito que vai causar vários problemas no mundo de Gelo e Fogo.
A coragem e a loucura são primas, ou pelo menos foi o que ouvi dizer.
Arya também acaba tendo contato com essa parte mais “mágica” deste mundo. Isso acontece porque ela continua tentando sobreviver nas Terras Fluviais até que ela acaba conhecendo Jaqen H'ghar, um membro da Guilda dos Homens Sem Rosto que veneram o Deus de Muitas Faces, conhecido como o deus da morte. Apesar de ainda não ter sido muito explicado até o momento, os participantes dessa sociedade possuem algumas habilidades, entre elas, a de alterar o próprio rosto, além de executar assassinatos de forma discreta, fazendo com que pareçam acidentes (bem útil para um assassino). Não sei ao certo para onde a trajetória de Arya irá guiá-la, mas eu gostaria muito de ler mais sobre essa guilda, pois dá para ver que religião é um assunto de grande interesse de Martin, visto que ele criou uma boa variedade delas nesse universo com características e credos bem distintos.
Infelizmente como nem tudo são flores, os capítulos de Catelyn continuam, apesar de muito importantes, extremamente tediosos, pois nem sua descrição sobre a guerra consegue salvá-la. Pelo menos, os diálogos dela com Brienne de Tarth e Jaime Lannister foram mais interessantes do que seus devaneios no livro anterior. Agora, um arco de personagem que me decepcionou muito nesse livro foi o de Daenerys Targaryen (pode me xingar à vontade). Os capítulos dela no volume anterior foram uns dos melhores e ela é, com certeza, uma das minhas personagens favoritas da saga, mas o segundo livro me deu a sensação de que a história dela não vai pra lugar nenhum. Como eu já vi parte da série de TV, imagino que isso vai mudar nos livros seguintes, mas na minha percepção me pareceu que Martin quis caminhar mais em outras partes da história, deixando a pobre Mãe dos Dragões um pouco de lado.
Portanto, apesar dos pontos que eu ressaltei, eu curti bastante a leitura. Apesar de densa em suas descrições, a escrita de Martin ainda flui bastante comigo, então não foi nada sofrido, pois vale ressaltar que o livro possui muitos diálogos, que como disse anteriormente, são o ponto forte do autor. Felizmente, teve uma grande participação de Tyrion, assumindo quase o protagonismo por completo nesse volume, mas ainda assim, fugindo do esquema tradicional de mocinho e vilão, pois convenhamos que ele está longe de ser o arquétipo do herói clássico e, nesse caso, isso funciona muito bem. Aqui Martin acrescenta muita informação à mitologia do universo fantástico de Gelo e Fogo, o que pra mim é excelente, pois em seus livros a construção de mundo não é dada de bandeja como em outras sagas. George vai lapidando e servindo os elementos aos poucos durante a narrativa, assim como foi o nascimento dos dragões no primeiro volume. Dito isto, com certeza vou ler os livros seguintes (apesar da incerteza de conclusão da saga) e recomendo fortemente se você já leu o livro anterior ou viu a série da HBO, pois aqui temos a nata da nata das histórias de fantasia.
Autor: George R. R. Marin
Páginas: 648
Formato: 16.00 X 23.00 cm
Peso: 0.903 kg
Acabamento: Livro brochura
Lançamento: 16/11/1998
ISBN: 978-85-5651-079-2
Selo: Suma
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